Apesar da boa vontade, muita gente tropeça na falta de informação ao abordar pessoas com deficiência. Ouvimos especialistas e elaboramos um guia para não cometer gafes

Alberto Pereira e o labrador Simon, que irá se aposentar em 2014. Foto: Edu Cesar
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Breno Viola, Ariel Goldenberg e Rita Pokk, atores de
Breno Viola, Ariel Goldenberg e Rita Pokk, atores de "Colegas"
Já as pessoas com Síndrome de Down descrevem outro tipo de erro clássico: a abordagem “regredida”, aquela fala com tom de quem se comunica com uma criança. O engano é tão comum que foi tema de um vídeo da campanha “Dê uma ajudinha a si mesmo, reveja seus conceitos”, estrelado por Ariel Goldemberg, ator do filme "Colegas".
Sempre perguntam se eu preciso de ajuda para contar o dinheiro. Mas para ajudar a ganhar, ninguém se oferece”, brinca o ator Breno Viola, que tem síndrome de Down
Evite cometer estes ou outros deslizes no relacionamento ou na abordagem de um deficiente físico, visual, auditivo ou intelectual com o guia abaixo.
Mara Gabrilli: 'se alguém que gosto muito apoia na cadeira, vejo como uma maneira de aproximação'
Mara Gabrilli: 'se alguém que gosto muito apoia na cadeira, vejo como uma maneira de aproximação'
>>> Deficiência física
Converse no mesmo nível. Se for bater um longo papo com um cadeirante, é melhor procurar um banco a fim de manter o mesmo nível do olhar. Se você fica em pé, a pessoa que está sentada na cadeira de rodas ficará com torcicolo.
Peça licença e seja cuidadoso. Se for guiar uma cadeira de rodas, vá com calma. Nunca a movimente sem pedir permissão. A cadeira é a extensão do corpo do deficiente.
Esteja disponível. Ofereça sua ajuda para pessoas que usam muletas, mas dê preferência para que ela mesma peça.
>>> Deficiência visual
Faça contato verbalmente. A primeira forma de aproximação de um cego é fazer contato verbal. Pode tocá-lo se for o caso. Ao se afastar, dê um toque para avisar que vai se distanciar e não deixá-lo falando sozinho.
Não tem problema convidá-los para espetáculos. Pode chamar amigos cegos para ir ao cinema ou teatro. “Um amigo que enxerga se interessou por uma amiga cega e perguntou o que eles poderiam fazer. Quando falei cinema, ele tomou um susto e disse: ‘Não me leve a mal, mas o que vamos fazer lá?’ Respondi: “Passear no shopping, comer pipoca... não é só a tela. São vários estímulos. E se ela tiver alguma dúvida sobre o filme, você explica baixinho”, conta Renato.
Não pegue no braço, muito menos no da bengala. Se for oferecer ajuda para um cego atravessar a rua, o correto é dar o ombro, andar de braços dados ou fazer uma concha com a mão para ele colocar o cotovelo e sentir que tem apoio.
Ajuste sua velocidade à dele. A velocidade é muito importante, pois todo deficiente visual caminha de forma lenta e com precaução.
Mostre a casa. Se for receber um deficiente visual em sua casa, faça uma visita monitorada pelos cômodos e explique a localização das mobílias. Isso lhe dará autonomia. As portas devem estar sempre abertas ou fechadas, nunca entreabertas.
Não toque na bengala. A bengala é o olho do deficiente visual, nunca tente guiá-lo puxando-a.
Paula Pfeifer: 'A surdez nos afasta das pessoas. Nossa interação social fica comprometida quando não conseguimos entender o que as pessoas dizem'
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>>> Deficiência auditiva
Faça contato visual. Fale sempre de frente para o deficiente auditivo e articule bem os lábios.
Não aumente o volume. Gritar não adianta nada. A expressão facial, não o volume da voz, é o mais importante para a comunicação com a pessoa surda.
Esteja atento ao momento certo. Só comece a falar com o deficiente auditivo quando ele estiver prestando total atenção a você.
O toque respeitoso faz parte da abordagem.  Quando quiser começar uma conversa, cutuque a pessoa caso ela não esteja olhando para você.
>>> Deficiência intelectual ou Síndrome de Down
Não fale em tatibitate. Deficiência intelectual não é deficiência mental nem doença. Se o deficiente for criança, jovem ou adulto, trate-o como tal. Nada de regressão.
Fique atento ao ritmo de comunicação e compreensão. O deficiente intelectual leva mais tempo para entender e explicar as coisas. Respeite o ritmo dele e repita quantas vezes for necessário, estimulando a interação.
Use as palavras adequadas. Há termos pejorativos: não se refira ao deficiente como o “doente mental”.
Crie uma rotina de trabalho adequada. Deficientes intelectuais podem e devem trabalhar. A sugestão é criar uma rotina de trabalho para eles. As tarefas podem ir de gestos simples, como pequenos trabalhos domésticos, a postos em empresas.